segunda-feira, 4 de abril de 2011

'Ouvindo Deus na Tormenta' - Max Lucado




No início era o Verbo...
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós.
João 1.1,14

O Autor da Vida – O Deus que sonhou


Sentado junto à grande escrivaninha, o Autor abre o grande livro. Não há palavras. Não há palavras porque não existe nenhuma palavra. Não existe nenhuma palavra porque nenhuma palavra é necessária. Não há ouvidos para ouvi-las, não há olhos para lê-las. O Autor está só.
E então Ele toma a grande pena e começa a escrever. Assim como um pintor junta suas cores, e um escultor, suas ferramentas, o Autor reúne suas palavras.
São três. Três únicas palavras. Dessas três fluirão milhões de pensamentos. Mas essas três palavras sustentarão toda a história.
 Ele toma a pena e traça a primeira: T-e-m-p-o
O tempo não existiu até que Ele escrevesse. Ele, em si, é atemporal, mas sua história ficaria fechada no tempo. A história teria o primeiro nascer do sol, o primeiro movimento da areia. Um começo... e um fim. Um capítulo final. Ele o conhece antes de escrevê-lo.
Tempo. Um passo na trilha da eternidade.
 Devagar, com ternura, o Autor escreve a segunda palavra. Um nome. A-d-ã-o.
Enquanto escreve, vê o primeiro Adão. Depois vê todos os outros. Em milhares de eras, em milhares de terras, o Autor os vê. Cada Adão. Cada filho. Instantaneamente amados.  Permanentemente amados. Para cada um, designa um tempo. Para cada um, indica um lugar. Nenhum acidente. Nenhuma coincidência. Apenas desígnio.
O Autor faz uma promessa a esses não-nascidos: À minha imagem fá-los-ei. Vocês serão como eu. Vão rir. Vão criar. Não morrerão, nunca. E ainda escreverão.
Cada vida é um livro, não para ser lido, mas, antes, uma história que deve ser escrita. O Autor inicia a história de cada vida, mas cada vida escreverá seu final.
Que liberdade perigosa. Seria muito mais seguro terminar a história de cada Adão. Registrar cada escolha. Seria mais simples. Seria mais seguro. Mas não seria amor. Amor só é amor quando há opção.
Assim, o Autor decide dar uma pena para cada filho. “Escrevam com cuidado”, sussurra. 
Carinhosamente, deliberadamente, escreve a terceira palavra, sentindo já a dor. E-m-a-n-u-e-l.
A maior mente do Universo imaginou o tempo. O mais capaz dos juízes garantiu uma escolha a Adão. Mas foi o amor quem concedeu o Emanuel, o Deus conosco.
O Autor entraria em sua própria história.
A Palavra tornar-se-ia carne. Ele também nasceria. Ele também seria humano. Ele também teria lágrimas e provações.
E, o mais importante, Ele também teria uma escolha. Emanuel postar-se ia nas encruzilhadas da vida e da morte, e escolheria.
O Autor conhece bem o peso dessa decisão. Faz uma pausa ao escrever a página de seu próprio sofrimento. Podia parar. Mesmo o Autor tem escolha. Mas como não criar, sendo Criador? Como não escrever, sendo Escritor? Como não amar, sendo Amor? Assim escolhe a vida, embora signifique morte, na esperança de que seus filhos façam o mesmo.
E desse modo o Autor da Vida completa a história. Ele encrava a lança na carne, e rola a pedra sobre o túmulo. Conhecendo a escolha que fará, conhecendo a escolha que todos os Adões farão, escreve “Fim”, então fecha o livro e proclama o início.

“Haja luz!”